31 janeiro 2006

O Minho e a Galiza


Vendo-os assim tão pertinho,
A Galiza mai-lo Minho
São como dois namorados
Que o rio traz separados
Quasi desde o nascimento.
Deixá-los pois namorar,
Já que os pais para casar
Lhes não dão consentimento.

(João Verde, in “Verde Raia”)

O último dos Parodiantes de Lisboa -- rectificação


De acordo com uma mensagem deixada por Fernando Andrade, num comentário ao meu artigo "O último dos Parodiantes de Lisboa", o Parodiante que faleceu há dias foi Ruy Andrade e não o seu irmão José Andrade. Aqui fica a correcção, com o meu pedido de desculpas ao sobrinho dos falecidos irmãos Andrade.

Ruy Andrade que, entre muitos outros papéis, desempenhou o de "Inspector Patilhas" na rubrica Rádio Crime do programa Graça com Todos, chegou a ser premiado como o melhor humorista da Europa. Reafirmo, portanto, tudo o que disse a respeito da qualidade do humor que os Parodiantes de Lisboa praticaram.


Para uma notícia mais detalhada sobre a vida dos Parodiantes e o falecimento de Ruy Andrade, visite-se este blog e este sítio, recomendados por Fernando Andrade.

Prometo que, da próxima vez que for a Salvaterra de Magos, vou à Cabana dos Parodiantes comer um "barrete" em homenagem aos falecidos. Para dizer a verdade, já estive em Salvaterra mais do que uma vez, mas nunca comi os tais "barretes". É imperdoável.

Televisão por satélite para telemóveis

Enquanto um pouco por todo o mundo desenvolvido se está a trabalhar no sentido de se vir a fornecer, num futuro relativamente próximo, televisão digital terrestre móvel, na Índia fazem-se planos para um serviço de televisão digital móvel, igualmente, mas por satélite. Sem antenas parabólicas, bem entendido.

A notícia, que nos chega de Bangalore, refere que os indianos estão a pensar em lançar um satélite capaz de abrir no espaço uma antena com 5 metros de diâmetro, pelo menos, a qual irradiaria para terra um sinal codificado segundo a mais avançada norma de compressão vídeo que existe, o MPEG4.

29 janeiro 2006

Uma "Madre Teresa" portuguesa


Há cerca de nove anos, tive o raro privilégio de conhecer pessoalmente uma das pessoas mais extraordinárias que já encontrei em toda a minha vida: a Irmã Maria Rita, ou Irmã Rita como também é conhecida, de seu nome completo Maria Rita Villar Saraiva Valente-Perfeito.

Ontem, ela deu uma conferência na Fundação Eng. António de Almeida, aqui no Porto, a propósito do Dia Mundial dos Leprosos, que hoje se comemora. Infelizmente, só tive conhecimento da conferência depois de ela se realizar e por isso não estive presente, com muita pena minha.

Afinal -- perguntar-se-á -- quem é essa tal Irmã Maria Rita?

É uma freira doroteia já idosa que, a partir de um dado momento da sua vida, decidiu dedicar-se de alma e coração aos leprosos, quando a lepra ainda era uma doença terrível e incurável.

Foi para Moçambique, onde desenvolveu um trabalho a todos os títulos extraordinário, em colaboração com uma freira canadiana, a Irmã Sacré-Coeur, primeiro, e com uma freira portuguesa, a Irmã Maria da Glória, mais tarde.

Tomaram conta de uma gafaria abandonada e situada a poucos quilómetros de Nampula, chamada Namaíta, a que elas deram o nome de Aldeia da Esperança. Aí desenvolveram um trabalho excepcional, de tratamento dos leprosos e de melhoria das suas repugnantes condições de vida.

Em 1983, as Irmãs Maria Rita e Maria da Glória foram raptadas pela Renamo. Caminharam pelo mato durante muitos dias, ao longo dos quais Maria Rita, com a sua energia e sentido prático, conquistou a simpatia dos guerrilheiros que as raptaram. Por isso, tanto ela como a sua companheira não foram minimamente molestadas, tendo acabado por ser libertadas com uma única condição: saírem de Moçambique para não mais voltarem.

Maria Rita veio para Portugal, mas Moçambique não lhe saía do pensamento. Não voltar a pôr os pés em Moçambique era uma exigência demasiado grande para ela, que tinha adoptado aquele país africano como sua segunda pátria. Por isso ela possui a nacionalidade moçambicana, a par da portuguesa.

Aqui em Portugal, roída de saudades, ela abordava as pessoas de pele negra que encontrava na rua, perguntando-lhes se eram moçambicanas. Se a resposta fosse positiva, logo ela dava largas ao seu entusiasmo por Moçambique.

Depois de ter passado, ainda, 5 anos na Suíça, a Irmã Maria Rita regressou finalmente, em 1989, a Moçambique, onde tomou conta de uma outra gafaria, situada na província de Tete e chamada M'condedze, a que ela deu o nome de Aldeia da Alegria.

Em 1997 regressou a Portugal, com uma nova finalidade para a sua vida: acabar com a lepra no mundo. Começou então a viajar, para tentar convencer os poderosos deste mundo a apoiá-la neste seu novo projecto. Quando eu estive com ela, a Irmã Maria Rita tinha chegado no dia anterior da Rússia, onde se tinha encontrado pessoalmente com o presidente Boris Yeltsin...

Como é oriunda de uma abastada família do Porto, a Irmã Maria Rita não se deixa intimidar pelos ricos e poderosos. Ela mesma se habituou em criança aos salões dourados da grande burguesia portuense. Por isso, ela sente-se tão à-vontade nos palácios reais e presidenciais como nas mais pobres palhotas moçambicanas. Por isso ela se atreve a tratar por tu os reis e presidentes.

Apesar de já ter nascido há 86 anos, a Irmã Maria Rita é possuidora de um assombroso entusiasmo pela causa dos leprosos. Tem mais energia e vitalidade do que muitas novas juntas. A sua entrega aos mais miseráveis deste mundo é uma lição para todos nós, acomodados que estamos às nossas vidinhas pacatas. A sua condição de menina rica e prendada da alta burguesia, que falava francês, escrevia versos, pintava quadros e tocava violino, mas que abandonou todos os confortos e riquezas para ir para África cuidar dos mais desgraçados, dá que pensar!

Humor: como dar um comprimido a um gato

1. Pegue no gatinho e aninhe-o no seu braço esquerdo como se segurasse um bebé. Coloque o indicador e o polegar da mão direita nos dois lados da boquinha do bichano e aplique uma suave pressão nas bochechas enquanto segura o comprimido na palma da mão. Quando o amorzinho abrir a boca atire o comprimido lá para dentro. Deixe-o fechar a boquita e engolir.

2. Recupere o comprimido do chão e o gato de detrás do sofá. Aninhe o gato no braço esquerdo e repita o processo.

3. Vá buscar o gato ao quarto e deite fora o comprimido meio desfeito.

4. Retire um novo comprimido da embalagem, aninhe o gato no seu braço enquanto lhe segura firmemente as patas traseiras com a mão esquerda. Obrigue o gato a abrir as mandíbulas e empurre o comprimido com o indicador direito até ao fundo da boca. Mantenha a boca do gato fechada enquanto conta até dez.

5. Recupere o comprimido de dentro do aquário e o gato de cima do guarda-fatos. Chame a sua esposa do jardim.

6. Ajoelhe-se no chão com o gato firmemente preso entre os joelhos, segure as patas da frente e de trás. Ignore os rosnados baixos emitidos pelo gato. Peça à sua esposa que segure firmemente a cabeça do gato com uma mão enquanto força a ponta de uma régua para dentro da boca do gato com aoutra. Deixe cair o comprimindo ao longo da régua e esfregue vigorosamente o pescoço do gato.

7. Vá buscar o gato ao suporte do cortinado e retire outro comprimido da embalagem. Tome nota para comprar outra régua e reparar as cortinas. Cuidadosamente varra os cacos das estatuetas e dos vasos do meio da terra e guarde-os para colar mais tarde.

8. Enrole o gato numa toalha grande e peça à sua esposa para se deitar por cima de forma a que apenas a cabeça do gato apareça por debaixo do sovaco. Coloque o comprimido na ponta de uma palhinha de beber, obrigue o gato a abrir a boca e mantenha-a aberta com um lápis. Assopre o comprimido da palhinha para dentro da boca do gato.

9. Leia a literatura inclusa na embalagem para verificar se o comprimido faz mal a humanos, beba uma cerveja para retirar o gosto da boca. Faça um curativo no antebraço da sua esposa e remova as manchas de sangue da carpete com o auxilio de água fria e sabão.

10. Retire o gato do barracão do vizinho. Vá buscar outro comprimido. Abra outra cerveja. Coloque o gato dentro do armário e feche a porta até ao pescoço de forma a que apenas a cabeça fique de fora. Force a abertura da boca do gato com uma colher de sobremesa. Utilize um elástico como fisga para atirar o comprimido pela garganta do gato abaixo.

11. Vá buscar uma chave de fendas à garagem e coloque a porta do armário de novo nos eixos. Beba a cerveja. Vá buscar uma garrafa de whisky. Encha um copo e beba. Aplique uma compressa fria na bochecha e verifique a data de quando apanhou a última vacina contra o tétano. Aplique compressas de whisky na bochecha para desinfectar. Beba mais um copo. Atire a T-Shirt fora e vá buscar uma nova ao quarto.

12. Telefone aos bombeiros para virem retirar o cabrão do gato de cima da árvore do outro lado da rua. Peça desculpa ao vizinho que se estampou contra a vedação enquanto tentava desviar-se do gato em fuga. Retire o último comprimido de dentro da embalagem.

13. Amarre as patas da frente às patas de trás do filho da puta do gato, com a mangueira do jardim e de seguida prenda firmemente à perna da mesa da sala de jantar. Vá buscar as luvas de couro para trabalhos à garagem. Empurre o comprimido para dentro da boca da besta seguido de um grande pedaço de carne. Seja suficientemente bruto, segure a cabeça do corno na vertical e despeje-lhe um litro de água pela goela abaixo para que o comprimido desça.

14. Beba o restante whisky. Peça à sua esposa que o conduza às urgências e sente-se muito quieto enquanto o médico lhe cose os dedos, o antebraço e lhe remove os restos do comprimido de dentro do seu olho direito. A caminho de casa contacte a loja das mobílias para encomendar uma nova mesa de jantar.

15. Trate de tudo para que a protectora dos animais venha buscar o cabrão do gato mutante fugido do inferno. Telefone para a loja dos animais e pergunte se têm tartaruguinhas.

(Recebido por email.)

27 janeiro 2006

A "prova da existência de Deus"



Wolfgang Amadeus Mozart «é a prova de que Deus existe». Assim dizia Leopold Mozart, seu pai, que achava que tamanha precocidade e tanta genialidade não poderiam ser frutos da Natureza; tinham que ser dons divinos.

Neste 250º aniversário do nascimento do genial Wolfgang Amadeus, proponho a audição da sua Serenata nº 13 para cordas em sol maior, "Eine Kleine Nachtmusik", que foi catalogada pelo senhor Köchel com o nº 525:

"Eine Kleine Nachtmusik", 1º andamento -- Allegro

"Eine Kleine Nachtmusik", 2º andamento -- Andante

"Eine Kleine Nachtmusik", 3º andamento -- Allegretto

"Eine Kleine Nachtmusik", 4º andamento -- Allegro

25 janeiro 2006

O último dos Parodiantes de Lisboa

Morreu José Andrade, a "alma" e principal impulsionador dos antigos Parodiantes de Lisboa. Se não fosse José Andrade, muito provavelmente os Parodiantes não teriam sido um grupo de humoristas de rádio que fizeram rir, durante cerca de 50 anos, milhares e milhares de pessoas em todo o mundo, com o seu humor de sabor popular, frequentemente ingénuo, mas nunca ordinário ou ofensivo. Nestes tempos que correm, em que pululam os "humoristas" que recorrem à graçola reles e ao palavrão para disfarçarem a sua falta de talento ou de imaginação, nunca será demais realçar a acção de José Andrade e dos seus companheiros, que mostraram durante décadas que é possível ter graça sem chafurdar na lama.

No sítio A Minha Rádio está à disposição de quem quiser ouvir um episódio da rubrica "Rádio Crime", em que o próprio José Andrade encarna a personagem do Inspector Ventoínha.

No sítio Clássicos da Rádio pode ser escutado um outro extracto do "Rádio Crime", em que José Andrade, no papel de Ventoínha, contracena com o seu irmão Rui Andrade, também já falecido, no papel de Patilhas.

24 janeiro 2006

Clara, de José Malhoa


A força que emana desta pintura de José Malhoa é extraordinária. A figura vigorosa de uma jovem mulher do Minho, representada neste quadro de grandes dimensões, dá-nos uma sensação de vitalidade dificilmente igualada.

José Malhoa, grande pintor português dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX, quis com esta pintura representar Clara, uma das personagens do romance As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis.

O original desta pintura encontra-se no Museu do Chiado, em Lisboa, um dos melhores museus de arte que há em Portugal.

23 janeiro 2006

Publicidade muito bem feita

Trata-se de um anúncio a um carro, mas vale a pena ver este pequeno vídeo.

Arte microscópica em circuitos integrados

Há mais de dez anos, um entusiasta da microfotografia, chamado Michael Davidson, começou a fotografar circuitos integrados, cujos componentes formam padrões que podem ser de grande beleza.

Para sua grande surpresa, Davidson descobriu que os engenheiros que desenharam alguns dos chips não se limitaram a pôr neles transistores e conexões. Puseram também figuras puramente decorativas, sem qualquer utilidade para os circuitos, retiradas das histórias aos quadradinhos, do cinema, da mitologia, etc. Fizeram-no apenas para sua recreação, para quebrarem o cansaço e o tédio provocados pelas muitas horas passadas agarrados aos computadores de EDA (Electronic Design Automation) das empresas fabricantes de microchips.

Algumas dessas imagens podem ser vistas aqui. Uma colecção mais vasta encontra-se aqui. Uma explicação mais detalhada sobre elas está aqui.

Será possível que o controlador da minha placa gráfica tenha desenhada uma das personagens do Maurício de Souza?

22 janeiro 2006

Isto é que faz subir a adrenalina!


Vi há poucas horas, no canal de televisão "2:", um programa intitulado "Tornar-se homem na Melanésia", incluído na série "Mundos".

Nesse programa mostraram-se as provas que dois jovens de duas ilhas distintas do Pacífico tinham que ultrapassar: um, da ilha de Kontu, tinha de caçar um tubarão apenas com um laço, enquanto que o outro, da ilha de Pentecostes, tinha de saltar de uma torre com umas lianas atadas aos tornozelos.

Esta segunda prova é a antepassada do bungee-jumping. Como é sabido, o bungee-jumping é um desporto radical que consiste em saltar de um ponto alto, como por exemplo de uma ponte situada a grande altura, com uns elásticos presos aos tornozelos. A pessoa que saltar acaba por ficar suspensa pelos pés, balançando para cima e para baixo sobre o abismo, presa pelos elásticos.

A ilha de Pentecostes fica no arquipélago de Vanuatu (chamado Novas Hébridas no tempo da colonização), que é agora um estado independente do Pacífico Sul. Naquela ilha, os rapazes que habitam a sua parte sul entregam-se anualmente ao estranho rito do salto, a que chamam nagol, para passarem ser considerados adultos.

Em torno de uma árvore alta e situada num terreno inclinado, eles constroem, com toros de madeira e lianas, uma espécie de torre com 25 a 30 metros de altura. Revolvem também o chão junto a esta torre, de forma a que ele fique macio.

Chegado o dia da cerimónia, os jovens que irão tornar-se adultos sobem à torre, amarram aos seus tornozelos umas lianas presas ao cimo da torre e saltam de lá de cima. Não ficam suspensos acima do solo, como acontece nos saltos com elásticos. Eles aterram mesmo no chão, de cabeça! As lianas que os prendem têm o comprimento exacto para que fiquem esticadas no momento da aterragem e amortecem a queda, juntamente com a maciez do solo revolvido. Salvo muito raras excepções, eles conseguem sobreviver ao salto sem sofrerem qualquer lesão.

Conta-se que esta espantosa cerimónia teve a sua origem numa mulher que era agredida frequentemente pelo seu marido. Num dia em que as agressões foram mais violentas, ela refugiou-se no cimo de uma árvore e recusou-se a sair de lá. O marido, não conseguindo convencê-la a descer, resolveu ir buscá-la. Quando ele chegou lá acima, a mulher saltou da árvore, com umas lianas presas aos tornozelos. O marido saltou atrás dela mas, como não tinha lianas nenhumas, morreu. Ela sobreviveu e o seu feito passou a ser repetido todos os anos pelos jovens.

Algumas fotografias da República de Vanuatu, em geral, e do nagol, em particular, podem ser vistas aqui e aqui.

17 janeiro 2006

Espantosas, as formigas


De entre todos os membros do reino animal, as formigas são, sem dúvida nenhuma, dos mais surpreendentes. Como é possível que insectos tão pequenos e aparentemente tão insignificantes possam constituir sociedades tão elaboradas?

O jornal norte-americano Washington Post publicou uma notícia dando-nos conta de uma investigação feita por cientistas da Universidade de Bristol, na Inglaterra, segundo a qual as formigas de uma dada espécie também são capazes de ensinar, uma capacidade que ainda não se tinha encontrado em criaturas não-humanas.

Os investigadores observaram como algumas formigas, depois de terem descoberto comida, voltavam ao formigueiro e ensinavam pacientemente a outras formigas o caminho para a comida. Estas outras formigas, por sua vez, ensinavam outras formigas ainda.

Como o Washington Post exige que nos registemos para podermos aceder às suas notícias na Internet, dou aqui o endereço da mesma notícia, em inglês, no jornal The Seattle Times.

16 janeiro 2006

Jovem com boneca


Jovem mumwila, pertencente ao grupo etno-linguístico Nyaneka-Humbi, da província da Huíla, no sul de Angola. Repare-se no objecto que ela tem nas suas mãos: é uma boneca tradicional.

Habitualmente, estas bonecas são feitas a partir do que resta de uma espiga de milho, depois de se lhe retirarem os grãos. O resto de espiga é envolvido por pedaços de pele de animais, que lhe dão mais volume e consistência, a que se acrescentam outros materiais. O resultado é uma boneca com o aspecto de uma mumwila.

Nota -- Confesso que não sei quem é o autor desta fotografia. Encontrei-a há tempos na Web e agora não consigo voltar a encontrá-la, para creditá-la a quem de direito. Se alguém reclamar, retirá-la-ei imediatamente.

15 janeiro 2006

E se alguém se lembrar de patentear o galo de Barcelos?

Notícia encontrada no blog brasileiro Blog do ABKnet:

Escapulário agora tem dono: Alemão registrou nome e cobra de incautos (05/01/06)

Daniele V. é uma brasileira radicada na Alemanha. Um belo dia ela resolveu leiloar, através do Ebay local, um escapulário que trouxera do Brasil. A peça foi vendida, por dez euros, e o procedimento de pagamento e entrega efetuados.

Dias após, Daniele teve um surpesa que chegou pelo correio: A exigência para pagamento de multa de 1.000 euros por uso indevido do nome e marca escapulário.

Um alemão simplesmente registrou um domínio (www.escapulario.de) na internet e patenteou o escapulário. Com isso a marca tornou-se protegida e quem a usar sem sua permissão terá problemas com a justiça. No fim de dezembro passado, Daniele perdeu, em última instância, a ação que moveu contra o pagamento. Além da multa de mil euros ela teve ainda que arcar com os custos do processo e advogado (...)

O comprador do escapulário no leilão do Ebay foi ninguém menos que o próprio advogado do alemão, dono da firma que patenteou o objeto religioso. Ao invés de advertir ou interromper o leilão por "uso indevido" da marca, ele simplesmente adquiriu a peça, pagou a quantia e com isso consumou o "crime" de Daniele. O resto a justiça cuidou. É portanto uma ação premeditada com objetivo de arrecadar dinheiro às custas de incautos, inacreditavelmente com amparo legal. (...)

Curiosamente, na página da internet a empresa usa símbolos brasileiros como a imagem do "Cristo Redentor" além de alusões ao Brasil. Uma prova de que o escapulário não é propriedade da empresa e sim um nome de origem portuguesa e tradicional objeto religioso existente há séculos. Para pessoas como Daniele, contudo, enquanto a patente não for anulada, pode sair caro usar o termo. Pelo menos um consolo: Rezar ainda não foi patenteado.

A notícia completa está aqui.

13 janeiro 2006

Um blog deslumbrante



Vulgar de Lineu é o nome de um deslumbrante fotoblog sobre plantas, da autoria de José Bandeira, cartoonista do "Diário de Notícias". A visitar obrigatoriamente todos os dias com a boca aberta de espanto.

11 janeiro 2006

O Futuro de Angola


Duas flores: uma, com F maiúsculo, que é a menina angolana; outra, com f minúsculo, que é uma rosa-de-porcelana.

Foto de Eduardo Baião, um excelente fotógrafo que exerceu a sua actividade em Angola, nomedamente como repórter fotográfico da revista Notícia.

08 janeiro 2006

Senhora da Mó



Onde será que fica esta ermida simples e bela, fotografada quase ao pôr-do-sol? Ficará ela no meio da planície alentejana? Ficará no Algarve, talvez perdida no mar de cabeços da Serra do Caldeirão?

Por incrível que pareça, esta capelinha branca de aspecto mourisco não fica no Sul, mas no Norte!

Quem quer se dirija a Arouca pela estrada que vem de Vale de Cambra ou pela de Lourosa, poderá ver um ponto branco no alto de um dos montes que servem de cenário à bonita vila (ou será cidade?) de Arouca. Esse ponto é a pequena capela, dedicada a Nossa Senhora da Mó, que aqui se vê.

07 janeiro 2006

Viagens interestelares à vista?


Se (e ponha-se aqui um grande SE) estiver correcta um teoria da Física que é altamente controversa, talvez seja possível, dentro de alguns anos, viajar entre a Terra e Marte em 3 horas. Note-se que eu não escrevi 3 meses nem 3 semanas; escrevi 3 horas! Como é que se pretende chegar a um tal cenário de ficção científica?!

Segundo a edição em papel (e só em papel) da revista New Scientist, a controversa teoria, que muitos físicos põem em sérias dúvidas, é a chamada Teoria Quântica de Heim, que trata da estrutura do Universo e que foi desenvolvida por Burkhard Heim (já falecido) na década de 1950.

Se a teoria estiver certa, uma nave espacial poderá ser equipada com um motor capaz de produzir um campo magnético de tal forma intenso, que produzirá um campo gravitacional que a impulsionará para uma outra dimensão, onde será possível atingir velocidades incrivelmente mais elevadas! Quando o campo magnético fosse desligado, a nave reapareceria na nossa dimensão e voltaria a viajar a uma velocidade normal.

Por mais delirante que esta ideia possa parecer, a verdade é que a força aérea dos Estados Unidos manifestou interesse por ela. Acontece que o Departamento de Energia Americano possui um aparelho, chamado Máquina Z, que dizem ser capaz de produzir o tipo de campo magnético pretendido. Assim, um grupo de cientistas desta instituição propõe-se levar a cabo uma experiência, para ver se a teoria tem razão de ser ou não.

Se tudo correr tão bem como se deseja, será possível produzir um motor baseado nessa teoria dentro de cerca de 5 anos, o qual possibilitaria a realização de viagens interestelares!

Darth Vader, aqui vamos nós!

(A notícia completa pode ser lida em inglês na Web, no sítio do jornal britânico Scotsman).

05 janeiro 2006

«Feudo-tirou»


Com o título em epígrafe, Carlos Romão, em um artigo do seu excelente blog "A Cidade Surpreendente", evoca as turbulentas relações ocorridas na Idade Média entre, de um lado, os habitantes do Porto e o próprio rei de Portugal e, do outro lado, o bispo da cidade, que era também o senhor feudal da mesma.

Concretamente, Carlos Romão lembra o episódio que opôs o rei D. Sancho I e os burgueses da cidade (com destaque para João Alvo e "um tal Pedro, que ficou conhecido pela alcunha popular de «Feudo-tirou»") ao bispo Martinho Rodrigues. Não só o texto de Carlos Romão está recheado de valiosa informação histórica, como as fotografias que o acompanham são magníficas, como é timbre do seu autor.

Não quero, portanto, deixar de chamar a atenção para o artigo e para o blog no seu conjunto, que é notável.

As imagens que ilustram o artigo mostram o imponente edifício do Paço Episcopal do Porto, que foi construído no séc. XVIII. É, aliás, frequente ver-se o actual bispo do Porto, Armindo Lopes Coelho, atravessar a pé o Terreiro da Sé, indo da catedral para o paço ou vice-versa, já não como o senhor da cidade, sobranceiro para com os seus habitantes, mas sim como um simples habitante, também ele, que anda nos seus afazeres.

Aproveito a afirmação que Carlos Romão faz a certa altura, de que "no trono estava então D. Sancho I, rei de Portugal... e dos Algarves que viria a perder", para lembrar um outro episódio que envolveu este rei, ocorrido aquando da primeira conquista da cidade de Silves aos mouros, no tal Algarve que ele "viria a perder" mais tarde.

A conquista de Silves empreendida por D. Sancho I contou com a participação de uma expedição de cruzados, tal como já tinha acontecido com a conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques. Consumada a conquista da cidade algarvia, logo se seguiu um combate que opôs os cruzados aos portugueses, porque, contra a vontade do rei, aqueles queriam matar todos os habitantes da cidade (incluindo os cristãos, que os havia entre os mouros; eram os chamados moçárabes), por serem "infiéis".

É claro que não foi pelos lindos olhos dos habitantes de Silves que D. Sancho I os defendeu contra os cruzados. O que o rei queria, era manter a cidade povoada, com uma população que trabalhasse e que produzisse riqueza. Uma Silves deserta não lhe serviria para nada.

Quanto mais súbditos tiver um rei e quanto mais riqueza eles produzirem, mais rico e poderoso será o soberano. D. Sancho I não era parvo nenhum. Não foi por acaso que ele ficou para a História com o cognome de "Povoador".

04 janeiro 2006

Jisabu (provérbios em quimbundo)

Seguem-se alguns provérbios em quimbundo, seguidos da sua tradução e, a seguir, do seu equivalente português (não garanto o rigor da ortografia em quimbundo):

Muzuedi uonene kalungê - O falador grande não tem razão - Quem muito fala pouco acerta

Ukembu ua petu, moxi isuta - Beleza de almofada, dentro trapos - Por fora cordas de viola, por dentro pão bolorento

Ukamba ua ndenge utunda mu xanga - Amizade de criança nasce no apanhar lenha - De pequenino se torce o pepino

Kuba ki kutexiê, kuenda ki kujimbidilê - Dar não é desperdiçar, andar não é perder-se - Faz o bem, não olhes a quem

03 janeiro 2006

A Vénus de Newton ou o Binómio de Milo


No seu eterno esforço para tentar compreender o Universo, o Homem construiu um edifício de conhecimentos de tal maneira belo, na sua extrema abstracção, que mais parece divino do que humano: a Matemática.

Este edifício cresceu a um ponto tal que nos permite, hoje, conceber tantos universos quantos quisermos e com tantas dimensões quantas desejarmos (mesmo que não consigamos imaginá-los), em vez deste universo aparentemente único e a quatro pobres dimensões (três espaciais e uma temporal) em que nos movimentamos. Se Deus existe, a Matemática é o seu rosto visível.

De que outra maneira, senão através da Matemática, seríamos nós capazes de encontrar alguma semelhança entre a forma que as nuvens tomam no céu e a ocorrência de engarrafamentos de trânsito na hora de ponta?

Não admira, portanto, que Fernando Pessoa ("vestindo a pele" de Álvaro de Campos) se tenha apercebido da extraordinária beleza da Matemática e se tenha atrevido a comparar o Binómio de Newton à Vénus de Milo:


O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó - óóóóóóóóó - óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora.)


(A solução para o Binómio de Newton pode ser vista numa página da Web que, por sua vez, tem uma ligação para uma outra com este poema.)

02 janeiro 2006

O Bom Pastor


Embora eu seja agnóstico, reconheço que muitas das maiores criações do génio humano são fruto do sentimento religioso, quer se trate do Templo Dourado de Amritsar, da oratória "A Paixão Segundo S. Mateus", de Bach, ou do Livro dos Salmos, do rei David.

A arte em Portugal está repleta de obras que são, também elas, fruto do sentimento religioso. De entre estas, permito-me destacar as pinturas de Frei Carlos, que viveu no séc. XVI e é um dos maiores pintores portugueses de todos os tempos.

Este "Bom Pastor", que aqui se reproduz e cujo original pode ser admirado no Museu Nacional de Arte Antiga (vulgo Museu das Janelas Verdes), em Lisboa, é talvez a mais bela e mais tocante das pinturas de Frei Carlos. Tendo o pintor vivido em Évora, não custa nada acreditar que ele tenha tomado como modelo um verdadeiro pastor alentejano.

01 janeiro 2006

Um dia na vida de África


A Day in the Life of Africa é uma reportagem fotográfica que retrata aspectos da vida em 53 países africanos, tal como foram registados, ao longo de um só dia, por cerca de 100 fotógrafos de todo o mundo, incluindo o brasileiro Sebastião Salgado. O dia retratado nesta reportagem fotográfica foi 28 de Fevereiro de 2002, que foi um dia igual a tantos outros.

Além da extraordinária qualidade da maior parte das imagens, há a salientar, na presente reportagem, a visão de uma África viva, habitada por gente de carne e osso e alma e sentimentos. É imperdível, esta reportagem.

Poema

A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

(Sophia de Mello Breyner Andresen)