20 março 2006

Os sargaceiros da Apúlia


Imediatamente a norte da Estela, no concelho da Póvoa de Varzim, fica a Apúlia, que é uma freguesia do concelho de Esposende. Apesar de a Apúlia estar situada à beira-mar, aquilo que a tornou famosa não está relacionado com a pesca, mas sim com a agricultura.

É a figura do sargaceiro, que apanhava as algas (sargaço) trazidas para a costa pelo mar, a fim de as utilizar na fertilização dos campos, depois de terem sido secas ao sol. Embora a actividade da apanha do sargaço esteja agora reduzida ao mínimo, ela na Apúlia teve uma grande importância no passado. Permitiu, inclusive, que se fertilizassem as dunas da Estela, transformando-as em campos produtivos, os chamados campos-masseira.

Os sargaceiros não eram profissionais da apanha do sargaço. Eram os próprios habitantes da terra (homens e mulheres) que, em determinadas ocasiões, abandonavam o trabalho nos campos e iam para a praia recolher sargaço e estendê-lo no areal para secar. Concluída a temporada da apanha do sargaço, regressavam à sua actividade agrícola.

A inconfundível indumentária que os homens vestiam para a apanha do sargaço é motivo de muita admiração. Não falta quem evoque as túnicas dos antigos romanos e as "saias" dos pauliteiros de Miranda (que na verdade não são saias; são camisas, que são tão compridas que parecem saias; digamos que os pauliteiros se "esqueceram" de vestir as calças e dançam em fraldas de camisa) para justificar o uso da chamada branqueta com saiote pelos sargaceiros da Apúlia.

Não são precisas grandes explicações. A razão para o uso de tal indumentária era eminentemente prática: permitir que o sargaceiro entrasse no mar, a fim de recolher o sargaço que flutuava na água.

Antigamente, como é óbvio, não existiam os tecidos sintéticos de secagem rápida que se usam nos modernos fatos de banho. As pessoas vestiam-se de linho, algodão ou lã que, uma vez molhados, demoravam muito tempo a secar.

Se o sargaceiro usasse calças, calções ou mesmo só cuecas, ele não poderia entrar na água, pois ficaria com um tecido molhado a roçar-lhe as virilhas durante horas, causando-lhe inflamações na pele e favorecendo o aparecimento de micoses. Por isso ele usava saias sem nada por baixo. Quase até aos limites impostos pelo pudor, as saias eram suficientemente curtas e com suficiente roda para que a água secasse rapidamente.

Comentários: 5

Anonymous Anónimo escreveu...

Lindo post, nunca havia tido acesso a informações sobre os sargaceiros. Deve ser fascinante ver de perto a maneira como essas pessoas trabalham.
Obrigado por compartilhar mais essa informação!

23 março, 2006 06:40  
Blogger Lucélia Silva: escreveu...

Devo salientar que me sinto satisfeita, por hoje me dia existir interessados em divulgar os sargaceiros de Apúlia. :)

05 janeiro, 2009 17:44  
Anonymous Anónimo escreveu...

olá boa tarde.
aproveito e complemento com imagens recentes:
http://picasaweb.google.com/apintocoelho/MareadaRecriaODaApanhaDoSargaO?feat=directlink
abraço,
http://apcoelho.blogspot.com/

24 janeiro, 2009 16:04  
Blogger Peter escreveu...

Parabéns pelo texto e sobre tudo pelo tema, contudo convém esclarecer que a freguesia de Apúlia, pertence ao concelho de Esposende e não da Póvoa de Varzim

31 agosto, 2009 23:37  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Muito obrigado pelos vários comentários que aqui têm sido deixados.

Caro "Off the record",
Não deve ter reparado que logo no início do artigo eu escrevi: «Imediatamente a norte da Estela, no concelho da Póvoa de Varzim, fica a Apúlia, que é uma freguesia do concelho de Esposende.» Parece-me que não podia ser mais claro; a Apúlia pertence ao concelho de Esposende e a Estela ao da Póvoa de Varzim.

Voltem sempre.

15 maio, 2010 23:48  

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