25 janeiro 2007

Estrada de fogo

Pedra a pedra a estrada antiga
sobe a colina, passa diante
de musgosos muros e desce
para nenhum sopé;

encurva, na abstracta encruzilhada;
apaga-se, na realidade. Morre
como o rastilho do fogo,
que de campo em campo aberto

seguia, e ao bater na mágica cancela
dobrava a chama, para uma respiração,
e deixava o caminho do portal
incólume e iniciado.


Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007)


(Foto: A. Leitão)

Comentários: 2

Blogger João Carlos Carranca escreveu...

Hoje fiquei a conhecer uma poetisa portuguesa que por qualquer motivo me tinha passado ao lado
Dos dois poemas que lhe li, gostei
Abraços

25 janeiro, 2007 18:32  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Leia a Fiama, amigo Carranca, leia-a e verá que não se arrependerá. Ela não só foi uma excelente poetisa, como foi uma não menos excelente prosadora, ensaísta e tradutora.

Nos anos 60, ela fez parte de um movimento que renovou a poesia portuguesa, chamado Poesia 61. Em 1967, publicou Barcas Novas, de que se popularizou o poema que deu o nome ao livro. Foi um libelo contra a guerra colonial, foi cantado por Adriano Correia de Oliveira e foi também musicado por Fernando Lopes-Graça. A edição em disco da obra de Lopes-Graça constituiu um êxito discográfico notável, em termos de vendas, sobretudo por se tratar de uma obra de carácter erudito.

O poema da Fiama reza assim:

Barcas novas

Lisboa tem suas barcas
agora lavradas de armas

Lisboa tem barcas novas
agora lavradas de homens

Barcas novas levam guerra
As armas não lavram terra

São de guerra as barcas novas
Ao mar deitadas com homens

Barcas novas são mandadas
Sobre o mar com suas armas

Não lavram terra com elas
Os homens que levam guerra

Nelas mandaram meter
Os homens com sua guerra

Ao mar mandaram as barcas
Novas lavradas de armas

Em Lisboa sobre o mar
Armas novas são mandadas

25 janeiro, 2007 23:05  

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