31 janeiro 2007

Os "portugueses" de Malaca

Bairro "português" de Malaca (Foto: phil_uk_net)

Malaca, cidade situada no estreito do mesmo nome e actualmente pertencente à Malásia, foi conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511 e esteve em poder dos portugueses até 1641, ano em que foi conquistada pelos holandeses.

À semelhança do que aconteceu em outras cidades e territórios conquistados por Portugal no Oriente, a miscigenação entre os conquistadores portugueses e a população local foi incentivada por Afonso de Albuquerque e pelos seus sucessores. Resultou desta política uma população mestiça, falante de português, praticante da religião católica e fiel a Portugal.

Actualmente, 366 anos depois de os portugueses terem saído de Malaca (trezentos e sessenta e seis anos, repito), ainda há naquela cidade pessoas que se chamam a si próprias portuguesas, falam um crioulo de base portuguesa chamado Papiá Cristão (Kristang em malaio) e continuam a professar o catolicismo. São na sua maioria pescadores e pobres, mas não miseráveis. Muitos mudaram para outras cidades à procura de melhores condições de vida, havendo comunidades de "portugueses" de Malaca, nomeadamente, em Kuala Lumpur (a capital da Malásia) e em Singapura.

Chega a ser comovente o apego daquela gente a Portugal. Orgulham-se dos seus antepassados portugueses, interessam-se por tudo o que diz respeito ao nosso país, conhecem muitas canções modernas portuguesas e até procuram reproduzir as nossas danças folclóricas. Sentem-se portugueses, sem renegarem a sua nacionalidade malaia, mesmo sabendo que nunca terão a oportunidade de algum dia vir a Portugal.

E nós, que aqui estamos neste "jardim à beira-mar plantado", que sabemos deles? Nada, nem sequer sabemos que eles existem, os nossos irmãos "portugueses" de Malaca!

No cimo do morro, as ruínas da antiga Igreja de Nossa Senhora do Monte, que os holandeses dedicaram a São Paulo. Em baixo, à esquerda, a Porta de Santiago, que é tudo o que resta da antiga fortaleza portuguesa, "A Famosa" como Afonso de Albuquerque lhe chamou.

Comentários: 8

Blogger a.leitão escreveu...

O futuro de um povo faz-se da sua história.
O Denudado já reparou que a nossa classe política, a começar nos auto-intitulados homens de cultura, não descansam enquanto não banirem por completo o ensino da História?
Se não souber-mos quem fomos como saberemos para onde vamos?

01 fevereiro, 2007 00:43  
Anonymous Anónimo escreveu...

Se não tivesse lido o seu texto, diria que a foto era de dia de festa no Minho!! Às vezes pergunto-me de que seremos feitos, nós os portugueses, para justificar, por exemplo, este "apego" que os "portugueses" da Malaca têm por nós? Seja o que for, a verdade é que gosto de ser portuguesa, e mesmo adorando viajar, sabe-me sempre muito bem o regresso ao meu país!

02 fevereiro, 2007 00:57  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

A. Leitão, num país como o nosso, o ensino da História deveria ter uma importância particularmente grande. Portugal moldou as chaves do mundo, como disse o poeta António Gedeão. Para o bem e para o mal. Aquilo que de bom e de mau os portugueses fizeram ao longo da sua história deixou marcas, por vezes muito profundas, um pouco por todo o mundo. Afinal, a tão falada globalização não é uma coisa de agora; foram os portugueses que a começaram quando se lançaram ao mar há 600 anos.

Os povos que connosco se relacionaram no passado (ainda que muitas vezes de uma forma profundamente desigual e violenta) conhecem-nos bem e até assimilaram, por vezes, muita da nossa cultura. Devemos aproveitar esse capital de conhecimento e até de cumplicidade (se existir) para estabelecermos um relacionamento em moldes novos e pragmáticos, em pé de igualdade e com base no respeito mútuo. Sem complexos e também sem ressentimentos, o que nem sempre é fácil, pois há feridas que ainda doem.


Sony Hari, para que a foto fosse de um dia de festa no Minho, os homens teriam de se vestir de uma forma diferente. Se olhar para a foto, notará que os homens vestem calças vermelhas com uma faixa preta. Ora a tradição do Minho impõe que os homens vistam calças pretas com uma faixa vermelha. Portanto, os nosso irmãos de Malaca trocaram as cores!

02 fevereiro, 2007 18:03  
Blogger inominável escreveu...

a História tem destas histórias... episódios quase comoventes... quase incompreensíveis...

04 fevereiro, 2007 22:28  
Blogger Comunidade Luso-descendente em Malaca escreveu...

Boa tarde,

Deambulando pela internet deparei-me com o seu blog sobre os portugueses de Malaca. Gostei do que escreveu. Neste momento encontro-me a viver no Bairro Português de Malaca a trabalhar num Projecto com todos estes portugueses que vivem orgulhosos das nossas tradições.

quase 500 anos depois...

Partilho o nosso blog
www.povos-cruzados.blogspot.com

27 janeiro, 2010 08:43  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Muito obrigado, minha cara amiga, pelas suas amáveis palavras. O seu blogue acaba de entrar para o rol.

Desejo-lhe os maiores êxitos aí por terras de Malaca.

28 janeiro, 2010 23:32  
Anonymous Maria Mendes escreveu...

Bom dia!Moro em Lisboa, Portugal. Acabei de ver uma reportagem sobre o Bairro portugues em Malaca e sinceramente fiquei tão comovida e emocionada pelos portugueses que vivem tão orgulhosos de ser portugueses, que estou a combinar com meu marido ir um dia lá e dar umas aulas de portugues gratuitas, com todo o meu amor a essas pessoas tao lindas e meus irmaos em Cristo.

26 agosto, 2011 20:52  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Prezada Maria Mendes,
Tem estado em Malaca a ensinar português uma bolseira do Instituto Camões, chamada Cátia Candeias, que é a autora de um simpático comentário que está um pouco mais acima, escrito sob o pseudónimo "Portugueses de Malaca".

É ao Instituto Camões que compete a defesa e a divulgação da língua e da cultura portuguesas pelo mundo. Se a minha amiga estiver mesmo decidida a ir a Malaca dar aulas de português, então talvez seja aconselhável contactar o Instituto Camões antes de partir.

29 agosto, 2011 00:45  

Enviar um comentário