13 junho 2007

Desejos vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e tensa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol, altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

Florbela Espanca



(Foto: al-Farrob)

Comentários: 7

Blogger Koluki escreveu...

Mas... ainda assim
eu queria ser
o mar,
o sol,
a arvore,
a pedra...

13 junho, 2007 20:49  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Cara Koluki, não era este poema da Florbela Espanca que eu queria publicar, mas sim o poema "Árvores do Alentejo". A melhor imagem de árvores do Alentejo que encontrei é esta magnífica fotografia que aqui se vê. O problema é que estas árvores não têm, nem pouco mais ou menos, o dramatismo que Florbela lhes atribui, assim como a si própria. Publiquei então outro poema, mas as árvores ficaram. Qualquer poema da Florbela é belo. Ela é um nome cimeiro da poesia portuguesa do séc. XX.

15 junho, 2007 01:14  
Blogger Koluki escreveu...

Denudado, olhe que eu ate' acho que esta foto faz juz ao dramatismo deste poema. Acho que ela contem/explicita os dois momentos do poema e esta imagem de duas arvores isoladas em campo aberto acaba por servi-lo bem: "a arvore tosca e tensa... como quem reza, abrindo os bracos aos ceus como um crente"!

15 junho, 2007 19:32  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Koluki, esta foto faz jus ao dramatismo deste poema, é verdade. Foi por isso que o publiquei. O que ela não faz jus, é ao dramatismo do poema "Árvores do Alentejo", também de Florbela Espanca, que reza assim:


Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!

15 junho, 2007 23:34  
Blogger Koluki escreveu...

Agora percebi melhor o seu anterior comentario.
Mas... mesmo assim, Denudado, se a foto nao faz inteiramente juz ao "Arvores do Alentejo", tambem nao creio que o trai. Mas isto talvez seja apenas por termos diferentes nocoes de dramatismo...

16 junho, 2007 19:25  
Blogger Andreia escreveu...

adoro o trabalho da SENHORA Florbela Espanca... e o poema escolhido é realmente lindo..

25 junho, 2007 20:19  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Anrasaxa, seja bem-vinda a este meu espaço. A ânsia que se sente na poesia de Florbela Espanca é arrepiante. Tanto mais arrepiante quanto sabemos que ela não encontrou o Amor que tão ansiosamente procurava, acabando por se suicidar. Foi trágica, a procura de Florbela Espanca, e isso sente-se na sua poesia.

03 julho, 2007 10:24  

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