20 junho 2011

As guerras do Solnado


Enquanto durou a Guerra Colonial, isto é, desde 1961 até 1974, o regime de Salazar e de Caetano impôs em Portugal um silêncio absoluto a todas as vozes que pusessem em causa a legitimidade de tal guerra. Quem, mesmo assim, se atrevesse a fazê-lo, era imediatamente apontado a dedo como um traidor à Pátria e teria, de certeza absoluta, grandes problemas com a polícia política, a famigerada PIDE/DGS. Mesmo a simples defesa da Paz e da concórdia entre os povos, como valores inestimáveis para a Humanidade, trouxe sérios dissabores a muitos portugueses, incluindo sacerdotes da Igreja Católica.

Foi neste dificílimo contexto político que Raul Solnado, que foi um dos mais notáveis atores cómicos portugueses do séc. XX, se atreveu a intervir neste campo. Não o fez pondo em causa a Guerra Colonial em concreto, mas ridicularizando a guerra em geral -- todas as guerras --, em geniais rábulas que protagonizou nos palcos do Parque Mayer, em Lisboa, entre outros lugares. Eu não sei que dificuldades é que Solnado teve que enfrentar para conseguir fazê-lo. Imagino que muitas. Mas a verdade é que a apertada censura da época permitiu que tais rábulas fossem levadas à cena. Apesar de tudo, o teatro de revista era naquele tempo um espaço em que, de uma maneira controladíssima, é certo, se podia fazer um pouquinho de crítica social e política. Esta é uma das razões que explicam a enorme popularidade que o teatro de revista tinha então.

Quando falavam na "Guerra do Solnado", era à popularíssima "Guerra de 1908" que as pessoas se referiam. Mas Raul Solnado também abordou o tema da guerra em mais duas rábulas, pelo menos: "Chamada para Washington" e "É do Inimigo?".



A Guerra de 1908



Chamada para Washington



É do Inimigo?

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