24 dezembro 2011

Natal de 2011

Adoração dos Magos, de Jorge Afonso (c.1470-c.1540), Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

NATAL, E NÃO DEZEMBRO

Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rasto de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira (1927-1996), in Cancioneiro de Natal



Hodie nobis de cœlo, de D. Pedro de Cristo (c.1550-1618), pelo coro Vox Ætherea, de Coimbra

Comentários: 1

Anonymous maria escreveu...

Como sempre, gostei muito do seu post. Simples e bonito. Rico em imagens e palavras. Tudo na medida certa. Parabéns.

25 dezembro, 2011 08:13  

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