26 setembro 2013

O Jardim

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa (1924-2013)

(Foto: Carlos Romão)

Comentários: 2

Blogger NAMIBIANO FERREIRA escreveu...

Faleceu um grande poeta!!
Paz a sua alma!

26 setembro, 2013 07:36  
Blogger Fernando Ribeiro escreveu...

Foi sem dúvida um dos maiores poetas portugueses desde há muitas décadas.

30 setembro, 2013 02:12  

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