28 abril 2015

Manta de farrapos

Uma manta de farrapos (Foto: pmvmendez)

Na economia doméstica antiga, nada se perdia, tudo se criava… No aproveitar, ia o ganho — como se dizia. De velhos trapos, reduzidos a tiras, mandavam-se tecer, em arcaicos teares manuais, as mantas de farrapos. Serviam para a cama, para o berço de um filho e até para deitar pelos ombros. Eram um remedeio de pobres como agasalho. Mas, não eram feias de todo. Feio é o diabo… Da variedade de tiras, unidas umas às outras com linha branca, muito apertada, saía uma obra humilde, mas harmoniosa.

Deram tento de semelhante harmonia os amadores da arte popular. Tanto, que fizeram da manta de farrapos objecto de luxo. Deram-lhe brasão, elevando-a à categoria de tapete. Põem nela os olhos quando a penduram como gobelinos.

Em boa hora os amadores da arte popular descobriram a manta de farrapos. Foi a maneira de prolongarem a vida aos agonizantes teares manuais, a manta de farrapos ainda se usa, e usará enquanto houver amadores da arte popular.

João de Araújo Correia (1899-1985), in Manta de Farrapos, 1962


Um tear artesanal (Foto: Câmara Municipal da Póvoa de Varzim)

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