30 julho 2016

Naturismo

(Foto de autor desconhecido)

“O Naturismo é uma forma de viver em harmonia com a Natureza caracterizada pela prática da nudez colectiva, com o propósito de favorecer a auto-estima, o respeito pelos outros e pelo meio ambiente.”

in Federação Portuguesa de Naturismo

25 julho 2016

Vem, noite antiquíssima e idêntica


Poema Dois excertos de odes (fins de duas odes, naturalmente), de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa (1888–1935), lido por Cleonice Berardinelli e Maria Bethânia. Os primeiros minutos deste vídeo foram dados a ver e ouvir por Pacheco Pereira, na emissão do seu programa semanal "Ponto contra Ponto" através da SIC Notícias, no início da madrugada de segunda-feira, 25 de julho de 2016, isto é, bem no meio da noite.

19 julho 2016

Brotas, Mora

Santuário de Nossa Senhora de Brotas, no concelho de Mora, em estilo popular alentejano (Foto: Câmara Municipal de Mora)


De uma maneira geral, as povoações no Alentejo tendem a localizar-se em sítios relativamente elevados. Muito relativamente, claro, pois sendo o Alentejo na sua quase totalidade uma região plana, as suas elevações dignas de nota são muito raras. Os "ninhos de águias", então, contam-se pelos dedos de uma mão e ainda sobram dedos. A vila de Marvão é um desses "ninhos de águias", como se sabe, pois localiza-se na Serra de São Mamede, que é a única serra digna desse nome que no Alentejo existe. Évora Monte, no concelho de Estremoz, é outro "ninho de águias" alentejano. Não estou a recordar-me de mais nenhum, mas admito que exista mais um ou dois.

Mas se os "ninhos de águias" são uma raridade no Alentejo, as povoações situadas em fundões e recôncavos são ainda mais raras. De momento, só consigo recordar-me de uma, que é Brotas, no concelho de Mora. Não é funda a cova em que se situa Brotas, mas sempre pode ser chamada cova.

O aparecimento desta povoação num local fundo deve-se certamente à existência de uma fonte, da qual brotava água. Daí o nome da localidade, Brotas. O surgimento de um santuário nesse local, dedicado a Nossa Senhora de Brotas, sugere, por seu lado, que a água dessa fonte era provavelmente tida por milagrosa.

Podemos deduzir que existiria uma lenda relacionada com essa fonte, à qual estaria associada uma moura encantada que se teria apaixonado por um garboso cavaleiro cristão, como costuma acontecer nas lendas associadas às fontes em Portugal. Nada disso acontece neste caso. Lenda existe, mas não mete fonte nem tem moura encantada nenhuma.

O portal da Câmara Municipal de Mora na internet conta a lenda de Nossa Senhora de Brotas, a qual reza assim:

O orago da aldeia é Nossa Senhora de Brotas, culto que data do século XV. Segundo a tradição este culto teve origem na vila das Águias, mais propriamente no lugar de Brotas da Barroca, que se encontrava naquela altura completamente inabitável por ser extremamente húmido e constituído por uma grande cova cercada de ribanceiras, que a toponímia local designou de Inferno, Inferninho e Purgatório. A lenda conta que enquanto um pastor guardava ali a sua vaca, esta por descuido escorregou e foi estatelar-se morta no fundo dessa cova. Quando se apercebeu do sucedido, o pastor desprovido da sua principal fonte de rendimento para sustentar a sua família, confiou à Virgem o seu desgosto, implorando-lhe proteção. De seguida começou a esfolar o animal e já depois de lhe ter cortado a pata que se tinha partido com a violência da queda, apareceu-lhe a Virgem Santíssima que lhe recomendou serenidade e pediu que fosse dizer aos moradores das Águias para lhe construírem ali uma capela e disse que assim que voltasse encontraria a vaca viva. O pastor assim fez e quando regressou àquele local com os seus conterrâneos, a vaca já andava a pastar como se nada tivesse acontecido e da pata que lhe havia sido cortada apareceu feita uma imagem da virgem. Pouco antes de 1424 ali se ergueu a ermida, como simples comenda da Ordem Militar de São Bento de Avis e dependente da vila das Águias. E a imagem da Nossa Senhora de Brotas ali foi conservada, com cerca de um palmo e feita de osso, harmonizando-se perfeitamente com os dados da tradição.
in Câmara Municipal de Mora


Torre das Águias, do séc. XVI, a poucos quilómetros de Brotas, no concelho de Mora (Foto: Rui Romão)


Umas palavras se impõem a respeito da Torre das Águias (este post está cheio de águias!). Quem não conhecer esta torre e vir a fotografia aqui em cima, dirá que ela é uma torre que se vê de longe, erguendo-se, orgulhosa e dominante, muito acima do montado. Nada mais falso, por incrível que possa parecer. Nós só vemos a Torre das Águias quando estamos quase junto dela! E ficamos imediatamente fascinados por ela. É uma maciça e poderosíssima torre, que parece feita para desafiar séculos e milénios, à semelhança das pirâmides do Egito. Esta analogia com as pirâmides não ocorre por acaso, pois a torre apresenta as paredes dos seus dois pisos superiores um pouco recuadas relativamente às dos seus dois pisos inferiores, o que lhe confere uma forma que faz lembrar um tronco de pirâmide. Os pináculos cónicos que encimam a torre são, também eles, extraordinários. Acho que nunca vi outra torre assim.

Quando nos encontramos junto desta torre e olhamos para cima, ela parece-nos muito mais alta do que é na realidade. A sua forma em tronco de pirâmide provoca no nosso cérebro uma ilusão de perspetiva, a qual é reforçada (e de que maneira) pelos cones no seu cimo. Vista de baixo, portanto, a torre parece-nos tão alta, que até fura o céu com os seus pináculos! Não há dúvida de que o arquiteto quinhentista que concebeu esta torre era um mestre da sua profissão, pois soube tirar partido das ilusões de ótica. Sem o adelgaçamento da sua metade superior e sem os pináculos cónicos no seu alto, esta torre teria o aspeto de um trambolho bruto, tão pesadão que pareceria querer enterrar-se pelo chão abaixo. Assim como ela está feita, pelo contrário, a torre parece querer elevar-se para o céu. Uma torre assim só poderia chamar-se Torre das Águias. No entanto, duvido que se vejam águias por ali. Quando muito ver-se-ão milhafres.

12 julho 2016

A Paz

Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno inseto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz rubra dos frutos, o que me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?

Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda
do meu exílio. Perdoa-me se não te peço
a paz. Apenas pergunto: o que me darias
em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um tronco de madeira
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?

Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo de mim,
entrego-te o meu destino. E dele me liberto
só de perguntar-te: o que me darias
se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero revestida
por uma crosta de sol em liberdade?

Casimiro de Brito, in Jardins de Guerra, 1966


(Foto de autor desconhecido)

10 julho 2016

Pela mão do pai

Criança fotografada na Índia, em local não especificado (Foto: Suzi McGregor)

08 julho 2016

O tocador de rabeca


Le Ménétrier, Mazurka op. 19 nº 2, do compositor polaco Henryk Wieniawski (1835–1880), pelo violinista norte-americano Elmar Oliveira, que é filho de emigrantes portugueses nos Estados Unidos, e pelo pianista Tao Lin

06 julho 2016

Inicial

O mar azul e branco e as luzidias
Pedras — O arfado espaço
Onde o que está lavado se relava
Para o rito do espanto e do começo
Onde sou a mim mesma devolvida
Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919–2004)


Praia da Granja, Vila Nova de Gaia. Foi esta a praia inicial da vida de Sophia (Foto: Paulo Silva)

04 julho 2016

Um saleiro bini-português incompleto

Saleiro bini-português do séc. XVI, de marfim, a que falta a tampa. Smithsonian National Museum of African Art, Washington, D.C., Estados Unidos da América


A arte bini-portuguesa é uma forma de arte que teve a sua expressão no antigo reino africano do Benim, na atual Nigéria, e que combina o estilo próprio da arte feita no referido reino com temas e assuntos que são de origem portuguesa. Trata-se de objetos que eram habitualmente encomendados por mercadores ou nobres portugueses a artistas benineses. Estes artistas fabricavam os objetos encomendados, tendo em conta os desejos e os gostos manifestados pelos clientes portugueses.

Este saleiro incompleto de marfim é um exemplo bem ilustrativo de arte bini-portuguesa. Nesta fotografia veem-se duas figuras. À direita, está representado um europeu, que é facilmente identificado pelas roupas que usa, pela espada que tem na mão e, sobretudo, pelo nariz adunco e lábios finos próprios dos europeus. Esta figura representa, possivelmente, o próprio cliente português que encomendou o saleiro. À esquerda está representado um anjo, cujo cabelo forma uma curiosa crista e que entrega ao europeu um objeto que eu não sei identificar, mas que parece ser um ramo de árvore.

Note-se que os anjos são entidades sobrenaturais próprias da cultura europeia, completamente alheias ao culto aos orixás que se fazia (e continua a fazer-se) no antigo reino do Benim. Se, entretanto, veio a verificar-se uma correspondência entre orixás, por um lado, e anjos e santos do culto cristão, por outro, ela é apenas uma consequência da cristianização que posteriormente aconteceu.

01 julho 2016

Julho

Julho, iluminura do livro Les Très Riches Heures du Duc de Berry