25 setembro 2016

Prémios Ig Nobel de 2016

Thomas Thwaites, de 34 anos, vencedor ex-æquo do Prémio Ig Nobel da Biologia 2016, fotografado nos Alpes Suíços com uma prótese de cabra de sua invenção (Foto: Tim Bowditch)


Os Prémios Ig Nobel destinam-se a galardoar os melhores trabalhos de investigação (num sentido muito lato do termo) que primeiro façam rir e a seguir façam pensar. São promovidos pela revista norte-americana Improbable Research.

Os Prémios Ig Nobel de 2016 foram atribuídos no dia 22 de setembro de 2016, durante uma cerimónia que teve lugar no Teatro Sanders, em Harvard, Massachussets, Estados Unidos, e foram os seguintes.

PRÉMIO IG NOBEL DA REPRODUÇÃO

Atribuído ao falecido Ahmed Shafik, por ter estudado os efeitos do uso de calças de poliéster, algodão ou lã na vida sexual dos ratos, e por ter realizado testes semelhantes em homens.

PRÉMIO IG NOBEL DA ECONOMIA

Foi para Mark Avis, Sarah Forbes e Shelagh Ferguson, por determinarem a personalidade observável de rochas, de um ponto de vista das vendas e do marketing.

PRÉMIO IG NOBEL DA FÍSICA

Concedido a Gábor Horváth, Miklós Blahó, György Kriska, Ramón Hegedüs, Balázs Gerics, Róbert Farkas, Susanne Åkesson, Péter Malik e Hansruedi Wildermuth, por descobrirem que os cavalos de pelo branco são os cavalos mais imunes à mosca do gado e por descobrirem que as libélulas são fatalmente atraídas por pedras tumulares negras.

PRÉMIO IG NOBEL DA QUÍMICA

Outorgado à Volkswagen, por ter resolvido o problema das emissões em excesso de poluentes atmosféricos, produzindo de forma automática e eletromecânica menos poluentes sempre que os carros eram ensaiados.

PRÉMIO IG NOBEL DA MEDICINA

Concedido a Christoph Helmchen, Carina Palzer, Thomas Münte, Silke Anders e Andreas Sprenger, por terem descoberto que se tivermos comichão no lado esquerdo do nosso corpo, podemos eliminá-la olhando para um espelho e coçando-nos no lado direito, e vice-versa.

PRÉMIO IG NOBEL DA PSICOLOGIA

Dado a Evelyne Debey, Maarten De Schryver, Gordon Logan, Kristina Suchotzki e Bruno Verschuere, por terem perguntado a mil mentirosos quantas vezes eles mentem e por terem decidido se devemos acreditar nas respostas.

PRÉMIO IG NOBEL DA PAZ

Atribuído a Gordon Pennycook, James Allan Cheyne, Nathaniel Barr, Derek Koehler e Jonathan Fugelsang, pelo seu estudo intitulado "Sobre a Receção e Deteção de Asneira Pseudo-Profunda".

PRÉMIO IG NOBEL DA BIOLOGIA

Atribuído, ex-æquo, a Charles Foster, por viver na meio da natureza, em diferentes ocasiões, como um texugo, uma lontra, um veado, uma raposa e uma ave, e a Thomas Thwaites, por ter criado extensões prostéticas para os seus membros que lhe permitem deslocar-se como uma cabra e andar pelos montes na companhia de cabras.

PRÉMIO IG NOBEL DA LITERATURA

Concedido a Fredrik Sjöberg, pela sua obra autobiográfica em três volumes sobre o prazer de colecionar moscas que estão mortas e moscas que ainda não estão mortas.

PRÉMIO IG NOBEL DA PERCEÇÃO

Outorgado a Atsuki Higashiyama e Kohei Adachi, por terem investigado se as coisas nos parecem diferentes quando nos dobramos e as vemos por entre as nossas pernas.

22 setembro 2016

Sinhá


Sinhá, canção de Chico Buarque em parceria com João Bosco, sobre o caso real de um escravo que teve os seus olhos furados por ter visto a sua patroa nua

15 setembro 2016

Os (verdadeiros) meninos do Huambo


Reportagem da TVI sobre o acolhimento e educação, pela ONG Okutiuka, fundada por Sónia Ferreira em 1997, de crianças e jovens abandonados na cidade do Huambo, Angola. Por uma vez, o repórter Vítor Bandarra fez um bom trabalho

11 setembro 2016

Dois grandes artistas que se foram: José Rodrigues e Mário Silva

Cervo, do escultor José Rodrigues (1936–2016), Vila Nova de Cerveira (Foto: José Rodrigues)


Coimbra, do pintor Mário Silva (1929–2016) (Foto: Costa Brites)

08 setembro 2016

Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…


Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)


07 setembro 2016

Buçaco

Mata Nacional do Buçaco (Foto: Fundação Mata do Buçaco)


Se há coisa que me atrai no Buçaco é a sua mata nacional. Só ela, e nada mais, me faz regressar uma e outra vez ao Buçaco.

O Palace Hotel? Não gosto. Salvo raras exceções, não gosto de pastiches e o Palace Hotel do Buçaco é um deles. Não nego a extraordinária riqueza ornamental da sua arquitetura neomanuelina, dos seus painéis de azulejos (de Jorge Colaço), do seu luxuoso mobiliário, dos seus jardins e de tudo o mais que no hotel se encontra. Mas o arquiteto que o concebeu, Luigi Manini, pegou num pedaço da Torre de Belém, noutro pedaço do Mosteiro dos Jerónimos, mais umas alusões ao claustro manuelino do Mosteiro da Batalha, mais não sei o quê, juntou tudo isto, acrescentou ainda umas ornamentações da sua própria lavra e fez o Palace Hotel do Buçaco. Não gosto. Decididamente não gosto.


Mata Nacional do Buçaco (Foto: Jornal da Mealhada)


Mas… O que seria da serra do Buçaco se o Palace Hotel não existisse? A serra perderia metade da sua graça. Seria uma serra semelhante às outras, ainda que coberta por uma mata lindíssima e fresquíssima. O Buçaco não seria o Buçaco. Além disso, o Palace Hotel é um testemunho de uma época e da mentalidade dominante nessa época.

Também não gosto do Palácio da Pena, em Sintra (só gosto do seu claustro manuelino e acho horrível tudo o resto), mas visto de longe, a coroar a serra, o Palácio da Pena é insubstituível. É ele que faz a serra de Sintra ser a rainha de todas as serras. Sem o palácio, ela seria uma serra banal.

Deixemos, portanto, o Palace Hotel do Buçaco em paz, apesar de toda a sua teatralidade, ou não tivesse sido Luigi Manini cenógrafo do Teatro de S. Carlos, em Lisboa. Visitemo-lo, se estivermos para aí virados, ou alojemo-nos nele, se tivermos dinheiro para isso, e percorramos a mata nacional que, essa sim, por si só vale mais do que uma dúzia de hotéis iguais àquele.


No Vale dos Fetos, os fetos gigantes chegam a atingir as dimensões de árvores (Foto: Grande Hotel de Luso)

01 setembro 2016

Setembro

Setembro, iluminura do livro Les Très Riches Heures du Duc de Berry