27 junho 2017

Caro nome

A brincar. Ária Gualtier Maldè!... Caro nome, da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi (1813–1901), numa paródia protagonizada pela cantora soprano coloratura norte-americana Marilyn Mulvey e o pianista e comediante dinamarquês Victor Borge (1909–2000)


A sério. Ária Gualtier Maldè!... Caro nome, da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi (1813–1901), numa interpretação da cantora soprano coloratura australiana Joan Sutherland (1926–2010) e a Orquestra do Covent Garden, de Londres, dirigida por Francesco Molinari-Pradelli (1911–1996)

24 junho 2017

São João Batista no Deserto


São João Batista no Deserto, c. 1515, óleo sobre madeira de um pintor anónimo habitualmente designado Mestre da Lourinhã. Santa Casa da Misericórdia da Lourinhã

20 junho 2017


Porque tudo já
foi dito, destravo a língua
no vazio, aos gritos!

Sétimo e último haicai de Sete Haicais — um Poema, de Carlos Saldanha Legendre, poeta brasileiro


Imagem do terrível incêndio iniciado na noite de sábado, 17 de junho de 2017, em Pedrógão Grande, que causou dezenas de mortos e dezenas de feridos (Foto: Lusa)

16 junho 2017

Castelo Novo, Fundão

(Foto: sacavem)

— Mas que raio! Toda a gente que vem a Castelo Novo me pergunta pela lagariça! Aquilo não tem nada que ver!

Assim exclamou um habitante da vila histórica de Castelo Novo, no concelho do Fundão, quando lhe perguntei onde ficava a lagariça. Enfim, a lagariça pode não ter (quase) nada que ver, mas Castelo Novo tem que ver — e muito —, incluindo a lagariça.

Comecemos pela localização. Aninhada num recôncavo da serra da Gardunha, Castelo Novo apresenta-se-nos como uma acolhedora cascata de casas e outras construções, sobre um fundo constituído por fraguedos da serra, de belíssimo efeito cenográfico. A primeira impressão que Castelo Novo transmite ao visitante não podia ser melhor.


A Torre Sineira, Casa da Câmara, antiga Cadeia, Chafariz de D. João V e Pelourinho (Foto: Aldeias Históricas de Portugal)

A seguir, os monumentos. Não faltam monumentos a merecer a nossa atenção em Castelo Novo. Desde logo, os que se podem ver na praça principal da vila. Vigiados pela torre de menagem do castelo em ruínas (o castelo já foi novo, já, mas isso foi há muitos séculos...), encontram-se a Torre Sineira, a Casa da Câmara (antigos paços do concelho), o Chafariz de D. João V, que lhe fica encostado, e um Pelourinho no meio da praça. Isto dito assim não diz nada, mas no entanto diz muito. Com efeito, encontram-se representados, só nesta praça, três séculos distintos: os séculos XIII, XVI e XVIII.

O castelo deve ser medieval. Foi no séc. XIII que Castelo Novo foi doado à Ordem dos Cavaleiros Templários e, portanto, a construção desta estrutura militar deve datar dessa época, se não for anterior. A Casa da Câmara, incluindo a antiga cadeia, e o Pelourinho datam do reinado de D. Manuel I, que foi quem atribuiu carta de foral à vila. A Torre Sineira data da mesma época. O Chafariz é barroco e data do reinado de D. João V.

Ao contrário do que seria de esperar, a conjugação num espaço tão pequeno de três estilos diferentes e até contrastantes (medieval, manuelino e barroco) produziu um resultado surpreendentemente harmonioso. Aquela pequena praça de Castelo Novo é um exemplo de que é possível combinar estilos diferentes sem agredir a sensibilidade estética de ninguém. Aquela pequena praça de Castelo Novo é uma lição a todos quantos, nos nossos dias, fazem "restauros", "reabilitações" e outros enxertos "a martelo", transformando construções antigas, que eram lindas ou apenas interessantes, em horrorosos mamarrachos. Esses senhores que não sabem combinar estilos diferentes, nem sabem pôr o antigo a dialogar com o moderno, que tratem de ir a Castelo Novo aprender como é que os antigos faziam.


Casa da Família Falcão (Foto: Aldeias Históricas de Portugal)

Depois de se ter admirado a praça principal de Castelo Novo, é altamente recomendável que se dê uma volta pela vila e se admirem as interessantíssimas casas e outras edificações que se encontram a cada passo que se dá. Não é por acaso que Castelo Novo é uma vila histórica. Visite-se, também, a igreja matriz, a da Misericórdia e outros templos que em Castelo Novo existem. Há muito que ver em Castelo Novo e também há muito que beber... mas é água.

Eu se calhar não devia fazer publicidade à água que junto a Castelo Novo se recolhe e se engarrafa, mas ela é tão saborosa que não resisto. Eu não conheço outra água de mesa que seja tão leve e tão fresca como a Água do Alardo. Pronto, está feita a publicidade gratuita.

Então, e a lagariça, de que falei no início? Afinal ela tem ou não tem algo que ver? Tem. A lagariça é um lagar de vinho escavado no granito a céu aberto e situado no meio da povoação. Data do século VII ou do VIII. Além de atestar a antiguidade da ocupação humana no local, a lagariça é um dos testemunhos materiais mais antigos existentes em Portugal da produção de vinho.

Foram os romanos que introduziram, no território que é hoje Portugal, o cultivo da vinha e a produção de vinho a partir da fermentação do mosto. Os habitantes do atual território português anteriores à chegada dos romanos (brácaros, lusitanos, cónios e outras tribos celtas), não conheciam o vinho. Fabricavam cerveja através da fermentação da cevada. A vinha é uma planta mediterrânica, mas a civilização celta era originária da Europa central e não do Mediterrâneo. Por isso, as tribos que aqui habitavam produziam cerveja e não vinho. Se, nos nossos dias, Portugal é um produtor de excelentes vinhos, aos romanos o deve.


A lagariça de Castelo Novo, constituída por duas pias situadas a níveis diferentes. Uma pia maior, situada a um nível superior, onde se pisavam as uvas. Através de um orifício, o mosto resultante da pisa das uvas escorria para uma pia mais pequena, de formato mais ou menos retangular, que se encontra a um nível mais baixo (Foto: Fernando Paulouro das Neves)

13 junho 2017

Partida

Partida, por Cesária Évora

10 junho 2017

Portugal

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me
sentir como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater
os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava
os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira
Que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
E o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
Quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera
um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do império
mas a única coisa que consegui apanhar
foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar
uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce, ainda mais doce
que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete
Salazar estava no poder
nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre
nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas
a nado na piscina municipal de Braga
ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional
Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho
Que Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca

Jorge de Sousa Braga, poeta português



05 junho 2017

Que mundo queremos construir?

Pajerama, uma curta-metragem brasileira de 2007, com animação de Leonardo Cadaval e Sérgio Minehira, música de Ruggero Ruschioni e realização de Leonardo Cadaval. Este é um filme de animação feita em computador, que retrata o choque de culturas entre a vida na floresta e a do mundo industrializado. O título Pajerama evoca as visões tidas por um pajé, isto é, por um xamã índio

01 junho 2017

Brincando com minas terrestres

Diante de uma parede esburacada pela metralha, crianças de Angola brincam com uma bicicleta cujas rodas são minas terrestres desativadas. Esta fotografia é do tempo da guerra civil angolana ou pouco posterior (Foto: Ricardo Beliel)