15 abril 2018

Conímbriga


Peristilo ajardinado e mosaico polícromo nas ruínas romanas de Conímbriga (Foto de autor desconhecido)

A cidade do Porto fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Portus Cale, de que tomou o nome. A cidade de Lisboa fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Olisipo, de que tomou o nome. A cidade de Braga fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Bracara Augusta, de que tomou o nome. A cidade de Coimbra fica no mesmo lugar onde anteriormente ficava Æminium. Porquê Æminium? Então Coimbra não vem de Conímbriga?

Conímbriga foi uma povoação antiquíssima, fundada, pelo menos, na Idade do Cobre, se é que ela não existia já na Idade da Pedra. O nome Conímbriga é de origem celta, como o de todas as povoações terminadas em "briga": Tongóbriga (perto do Marco de Canaveses), Cetóbriga (em Troia, em frente a Setúbal), Miróbriga (perto de Santiago do Cacém), Lacóbriga (que deu origem à cidade de Lagos) e muitas outras. Portugal é o país com maior percentagem de topónimos celtas da Europa, com exceção do Reino Unido e da República da Irlanda.

Conímbriga terá sido conquistada pelos Romanos em 138 A.C. e a sua romanização iniciou-se, sobretudo, no tempo do imperador César Augusto, o mesmo Augusto que era imperador de Roma quando Jesus Cristo nasceu. Durante o domínio romano, Conímbriga tornou-se uma cidade rica e importante, graças à sua localização estratégica na estrada que ligava Bracara Augusta (Braga) a Olisipo (Lisboa).


Mosaico romano em Conímbriga (Foto: Chris)

No séc. V, como é sabido, deu-se a queda do Império Romano, às mãos de povos bárbaros que o invadiram a partir do Norte e do Este. O território que corresponde ao Portugal atual foi invadido, numa primeira vaga, por três (nada menos do que três!) povos bárbaros, que ainda por cima eram dos mais temidos de todos: Suevos, Vândalos e Alanos. Os Suevos e os Vândalos eram germânicos, enquanto os Alanos eram caucasianos. Aqui chegados, estes bárbaros dividiram o território entre si, mas logo de seguida procuraram apoderar-se das terras uns dos outros, guerreando-se mutuamente. Destes combates resultou a vitória final dos Suevos sobre os Vândalos e os Alanos. Os Suevos ficaram cá, enquanto os outros dois povos se dirigiram para o sul da Península Ibérica, isto é, para a região que passou a chamar-se Vandália, nome este que evoluiu até à presente designação de Andaluzia. Da Andaluzia os Vândalos e Alanos atravessaram o estreito de Gibraltar e instalaram-se no Norte de África, onde fundaram o reino dos Vândalos, que se estendeu desde Marrocos até à Líbia atuais.

Os Suevos, que ficaram senhores da situação neste extremo ocidental da Península Ibérica, trataram de se apoderar das cidades deste território e das riquezas nelas existentes. Conímbriga não escapou à cobiça dos Suevos, tendo sido por eles pilhada e destruída no ano 468. A maior parte dos habitantes da cidade procurou refúgio numa povoação situada a perto de 20 quilómetros de distância e sobranceira ao Rio Mondego, chamada Æminium. Entre estes refugiados estava o bispo de Conímbriga. Como em Æminium passou a residir o bispo de Conímbriga, então a cidade deixou de se chamar Æminium para passar a chamar-se Coimbra, uma simplificação do nome Conímbriga.


Mosaico romano em Conímbriga (Foto: Chris)

Idácio, que foi bispo de Chaves e comandou a resistência desta outra cidade aos invasores suevos, tendo acabado por ser feito prisioneiro e posteriormente libertado, escreveu que os Suevos rapidamente trocaram a espada pela enxada. Quis Idácio dizer com isto que os Suevos acabaram por se estabelecer pacificamente nesta faixa de território, trocando a arte da guerra pela agricultura, que devia ser a sua atividade principal lá na Suábia de onde saíram. Isto mesmo foi atestado muitos séculos mais tarde pelo etnólogo Jorge Dias, que num trabalho publicado em 1948 revelou que o arado tradicional da região de Entre‑Douro‑e‑Minho é de tipo germânico.

Os Suevos fundaram um reino próprio, com capital em Bracara Augusta, a atual cidade de Braga. O reino dos Suevos foi passando pouco a pouco a chamar-se também reino de Portucale, tomando assim o nome da sua cidade portuária mais importante, a atual cidade do Porto. O território ocupado pelo reino dos Suevos compreendia toda a atual Galiza e a parte norte e centro do atual Portugal, estendendo-se até ao Rio Tejo e, por vezes, mais para sul ainda. Mais tarde o reino dos Suevos foi conquistado pelos Visigodos, um outro povo germânico entretanto chegado à Península, e estes, por sua vez, acabaram por ser derrotados pelos Árabes. Mas isto já não tem nada a ver com Conímbriga.


Mosaico romano em Conímbriga (Foto de autor desconhecido)

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